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Introdução

                                                     INTRODUÇÃO

Esta Epístola, portanto, para expressá-lo numa palavra, distingue o verdadeiro Cristo de um fictício - nada melhor ou mais excelente se pode desejar. 

Já no final do primeiro capítulo, ele uma vez mais procura assegurar sua autoridade com base na posição que lhe fora designada, e em termos magnificentes enaltece a dignidade do evangelho.

No segundo capítulo, ele esclarece mais distintamente do que fizera até aqui a razão que o induzira a escrever - para fazer provisão contra o perigo que divisava já pendente sobre eles, enquanto toca, de passagem, no afeto que nutria em relação a eles, para que soubessem que seu bem-estar é o objeto de sua preocupação. 

Daqui ele passa a exortação, pela qual aplica a doutrina precedente, por assim dizer, ao presente uso; pois ele os convida a repousarem em Cristo somente, e estigmatiza como sendo vaidade tudo quanto não faz parte de Cristo.

Ele fala particularmente da circuncisão, abstinência de alimento e de outros exercícios externos - nos quais equivocadamente, faziam consistir o serviço divino; e também do culto absurdo prestado aos anjos, os quais punham no lugar de Cristo. Havendo feito menção da circuncisão, ele aproveita a ocasião para notar também, de passagem, qual é o ofício e qual a natureza das cerimônias - das quais ele estabelece, como uma questão axiomática, como sendo já ab-rogadas por Cristo. Estas coisas são tratadas até o final do segundo capítulo.

No terceiro capítulo, em oposição àquelas fúteis prescrições para a observância à qual os falsos apóstolos tanto desejavam obrigar os crentes, ele faz menção dos verdadeiros ofícios da piedade nos quais o Senhor quer que nos empreguemos; e ele começa com a própria fonte- -mestra, a saber, a "mortificação da carne" e a "novidade de vida". Disto ele deriva as correntes, ou seja, exortações particulares, algumas das quais se aplicam a todos os cristãos igualmente, enquanto que outras se relacionam mais especialmente com os indivíduos particulares, segundo a natureza de sua vocação. 

No início do quarto capítulo, ele aborda o mesmo tema: após haver- -se encomendado à suas orações, ele mostra, mediante alguns sinais, o quanto ele os ama e está desejoso de promover seu bem-estar.

Uma vez que a carta de Paulo aos Colossenses é considerada uma admoestação e correção contra uma heresia ameaçando a igreja, iremos começar com uma breve palavra sobre a natureza de cartas ocasionais.
Como sugerido pela palavra “ocasional”, estas cartas são “ocasionadas” – e escritas para abordar necessidades particulares, questões, ameaças, eventos, e assim por diante. Uma carta ocasional representa apenas um lado da conversação, e desde que o significado da linguagem depende do contexto, isto pode representar dificuldades na interpretação, especialmente quando existe pouca informação concernente aos assuntos que pretende abordar. Por esta razão, muitas vezes é dada ênfase na averiguação do lado “perdido” da conversação, e então nossa interpretação da carta trona-se dependente do que pensamos que sabemos sobre o propósito pelo qual foi escrita.

Contudo, a dificuldade que isto constitui para interpretação bíblica é frequentemente exagerada, e também a importância do acesso a este lado da conversação. Isto porque a dificuldade é com frequência suficientemente reduzida e algumas vezes completamente eliminada pela profundidade do lado da conversação que está diante de nós.

Para ilustrar, suponha que alguém me pergunte, “Pode uma religião não-Cristã salvar-me da ira de Deus?” Uma resposta “não” é correta, e tão longe quanto é possível, também suficiente. Neste caso, é verdade que alguém que tem acesso apenas ao meu lado da conversação – a palavra “não” – pode não ter entendimento do que a resposta negativa realmente signifique ou o que pretende declarar. Portanto, minha resposta não ensinaria tal pessoa nada sobre a doutrina de Cristo.

Mas ao invés de um simples “não”, eu poderia dizer, Todos os homens caíram em Adão, e tem caído bruscamente dos mandamentos de moral e retidão de Deus. Mas Deus ordenou e enviou Cristo para tomar um corpo humano e morrer pelos pecados dos escolhidos para a salvação, assim todos que receberam o soberano dom da fé podem ser salvos através dele. Porque redenção dos eleitos por Cristo é o único plano de salvação de Deus, assim como Cristo é o único que satisfez a ira de Deus e redimiu os eleitos, a única maneira que qualquer pessoa pode ser salva é pela fé em Cristo.” Esta resposta muito mais completa é também correta e relevante.

E é mesmo possível que eu respondesse a questão desta forma, isso é, nos momentos em que eu não ministrasse uma explicação ainda mais longa.

Mais além, não apenas minha resposta é compreensível por si mesma, ela também provê ampla informação na doutrina Cristã que pode ser afirmada e aplicada por alguém não familiar com o intercâmbio original, mas que tem acesso a apenas a minha resposta à questão. Em ato, uma resposta tão extensa por si mesma é mais instrutiva em relação a Cristianismo do que se alguém fosse ter ambos os lados da conversação mas com uma resposta simples – como somente a palavra “não” – no meu lado do intercâmbio.

Também podemos observar que apenas porque minhas declarações são formuladas como resposta a uma questão não significa que cada detalhe na resposta precise corresponder a algo mencionado na questão. Por exemplo, a idéia de redenção é essencial na minha resposta, mas a questão em si não contém o conceito de redenção. Não pergunta se precisamos de redenção, ou se Cristo é o único que redime os pecadores. Ou seja, seria irracional pensar que porque a questão não contém o conceito de redenção, então nem minha resposta pode se referir a isto, ou que porque minha resposta refere a isto, então a redenção deve ser mencionada primeiramente na questão.

Existe algum debate sobre a natureza da heresia a que a carta escrita por Paulo supostamente se refere. Se agirmos pela (injustificada) suposição que toda questão de destaque mencionada por Paulo na carta tem como intenção contradizer um elemento correspondente na falsa doutrina a que escreve em resposta, então pareceria que a heresia contém uma mistura de misticismo, ascetismo, Gnosticismo, e tradição Judaica. Embora o Gnosticismo não tenha sido sistematizado até o segundo século, tendências Gnósticas há muito tem se infiltrado em algumas escolas de pensamento Judeu e Grego, por tanto é concebível que Paulo tenha tido que combatê-las durante seu ministério.

Dito isto, como Paulo não se refere diretamente a nenhuma heresia na carta, alguns argumentam que ele não escreve em absoluto para confrontar uma ameaça específica. Talvez seja apenas uma carta de instruções e exortações gerais, ou na melhor das hipóteses seu conteúdo corresponde, não a uma heresia específica, mas à cultura intelectual e religiosa geral que cerca os Colossenses.

Apenas porque Paulo enfatiza a supremacia de Cristo não significa que existam falsos professores denegrindo a suficiência de Cristo. Apenas porque ele estabelece uma Cristologia precisa e exaltada, insistindo na divindade e na humanidade de Cristo, não significa que exista uma heresia que ameace qualquer aspecto da doutrina. E apenas porque ele escreve, não significa que hajam de fato indivíduos ali buscando reforçar estas tradições. É possível, mas não necessariamente verdade.

Algumas pessoas têm aversão à palavra “religião” e preferem ter nada que ver com isto. Entre estes, aqueles se consideram Cristãos opõe-se à palavra com a justificativa de que Cristianismo não é uma religião mas uma “vida” ou um “relacionamento”. Mas este desdém pela palavra é baseado em ignorância e falsa piedade.

1. Primeiramente, devemos questionar se as palavras “vida” e “relacionamento” são de fato descrições adequadas à fé Cristã. O relato bíblico desta vida e relacionamento é muito mais rico que do que a maior parte das pessoas que preferem estas descrições da fé tem em mente. Na verdade, Escritura inclui muitas coisas em sua exposição desta vida e relacionamento que muitas destas pessoas buscam excluir pela rejeição da palavra “religião”.

Em Merriam-Webster, uma das principais definições de religião é “o serviço ou adoração a Deus.” Isto pode parecer muito específico para alguns filósofos, mas o Cristão comum mal poderia protestar contra. Mesmo que a definição seja insuficiente, não há nada repulsivo ou não espiritual nisto. E é claro, “o serviço ou adoração a Deus” pode incluir a idéia de uma vida ou um relacionamento, mas é também amplo para incluir mais, ou mais das coisas que estão envolvidas em vida e relacionamento.

2. Então, a segunda definição é “um conjunto pessoal ou sistema institucionalizado de atitudes religiosas, crenças e práticas.” Esta provavelmente representa a idéia de “religião” que muitos Cristãos desassociam de sua fé ou qualquer vida espiritual legítima. Todavia, não há nada inerentemente errado com esta idéia de religião; ao contrário, precisamos saber o que é que foi personalizado ou institucionalizado. Se é uma religião verdadeira, então deve ser personalizada. Se é religião verdadeira, endossa a forma organizacional de seu funcionamento, então deve ser institucionalizada.

Institucionalizar algo significa apenas “incorporar em um sistema estruturado e muitas vezes altamente formalizado.” Isto pode ser certo ou errado, e a maneira como é feito pode também certa ou errada. Um “sistema altamente formalizado” pode canonizar um conjunto de tradições humanas, resultando no repúdio da ortodoxia doutrinal e liberdade espiritual. Contudo, a culpa então recai no que é formalizado, e não na própria idéia de uma organização formal. Então mesmo a institucionalização não tem nada de inerentemente questionável em si, tampouco é necessariamente adversa para ou pelo Cristianismo.

Assim, por exemplo, se não é errado para um crente dizer que “o Cristianismo é o único verdadeiro serviço ou adoração a Deus,” então não é errado para ele dizer que “o Cristianismo é a única religião verdadeira.” Da mesma forma não há problema com a primeira e segunda definições do Webster’s New World Dictionary: “crer em um poder ou poderes divinos ou supra-humanos a serem obedecidos e adorados como criador(es) e governante(s) do universo” e “qualquer sistema específico de crença e adoração, frequentemente envolvendo um código de ética e uma filosofia.”

Se uma pessoa insiste em uma definição privada de religião que apresente-se errônea ou não bíblica, então é claro que este não deve aplicá-la ao Cristianismo, mas não tem base para impor tal definição a outras pessoas. O ponto é que quando operamos por definições de dicionários comuns, a declaração “Cristianismo não é uma religião”, é falsa, e na verdade não bíblica. É claro que Cristianismo é uma religião. E se nós agirmos por estas definições, então a pessoa que diz “Me dê Jesus, não religião” está nos dizendo que deseja nada ter com “o serviço e adoração a Deus.”

A necessária distinção não é entre religião e relacionamento, ao menos a partir das definições dos dicionários comuns, a religião pode sustentar um relacionamento. Antes, a distinção necessária é entre boa e má religião, ou verdadeira e falsa religião. O Cristianismo é superior a Islamismo, Budismo, e outros, não porque o Cristianismo é um relacionamento enquanto estas são meras religiões. Todas estas são religiões. A diferença é que o Cristianismo é verdadeiro e o resto é falso. O Cristianismo é uma religião revelada divinamente. É a própria palavra de Deus no próprio serviço e adoração a Deus. Todas as outras religiões são invenções humanas e demoníacas.

Sendo assim a questão crucial não é se o Cristianismo é uma religião, mas que tipo de religião é. Um modo pelo qual a Escritura caracteriza a religião Cristã é com palavras de fé, amor, e esperança (v. 4-5).


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