CAPÍTULO 1
1. Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e Timóteo, nosso irmão, 2. aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 3. Damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, orando sem pre por vós, 4. desde que ouvimos de vossa fé em Cristo Jesus, e do amor que tendes por todos os santos; 5. por causa da esperança que vos está reservada no céu, da qual ouvistes previamente na palavra da verdade do evangelho; 6. que já chegou a vós, como também está em todo 0 mundo, frutificando e crescendo, assim como entre vós desde 0 dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade; 7. segundo aprendestes de Epafras, nosso amado conservo, que por nós é fiel ministro de Cristo. 8. O qual também nos declarou vosso amor no Espírito.
A carta tece conjuntamente alta teologia com santidade de vida, e exortações com admoestações.
Um de seus principais temas é a plenitude de Cristo, e a plenitude que cristãos tem nele. Com isto dizemos que a pessoa e obra de Cristo são completos, e cristãos tem se beneficiado desta completude. Desde que este é o caso, qualquer tentativa de suplantar ou substituir a pessoa e obra de Cristo é na verdade enfraquecer e desvalorizá-lo, assim severamente comprometendo a integridade da fé Cristã.
15. Que é a imagem do Deus invisível
Ele chegou aos píncaros em seu discurso sobre a glória de Cristo. Ele o chama “a imagem do Deus invisível”, com isso significando que é tão-somente nele que Deus, que de outro modo é invisível, se nos manifesta, em concordância com o que lemos em João 1.18: “Ninguém jamais viu a Deus. 0 Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.”
Estou bem ciente de que maneira os antigos costumavam explicar isto; pois, tendo uma disputa a manter com os arianos, insistiam em igualar o Filho com o Pai, e sua identidade de essência (όμοουσίαν), enquanto nesse meio tempo não fazem menção do que é o ponto principal - de que maneira o Pai se nos faz conhecido em Cristo.
Quanto a Crisóstomo que põe toda a ênfase de sua defesa no termo imagem, disputando que não se pode dizer que a criatura é a imagem do Criador, é excessivamente frágil; mais ainda, é descartada por Paulo em 1 Coríntios 11.7, cujas palavras são: “o homem é a imagem e glória de Deus.”
Portanto, para que não recebamos algo senão o que é sólido, notemos bem que não se faz uso do termo imagem em referência à essência, mas como se referindo a nós; pois Cristo é chamado a imagem de Deus sobre esta base - que ele, de certa maneira, torna Deus visível a nós.
Ao mesmo tempo, disto deduzimos também sua identidade de essência (όμοουσία), pois Cristo realmente não representaria Deus se não fosse a Palavra essencial de Deus, visto que a questão aqui não é quanto àquelas coisas que, por comunicação, são também adequadas às criaturas, mas a questão é quanto à sabedoria, bondade, justiça e poder perfeitos de Deus, para cuja representação nenhuma criatura era competente.
Teremos, pois, neste termo uma poderosa arma em oposição aos arianos, mas, não obstante, devemos começar com aquela referência que já mencionei;não devemos insistir só sobre a essência.
Eis a suma: Deus, em si mesmo, isto é, em sua majestade desnuda, é invisível, e isso não meramente aos olhos corporais, mas também aos entendimentos dos homens, e que ele nos é revelado somente em Cristo, para que o contemplemos como num espelho. Pois em Cristo ele nos mostra sua justiça, bondade, justiça, poder, em suma, seu ego inteiro.
Devemos, pois, precaver-nos de buscá-lo em outra parte, pois tudo o que pusermos diante de nós, como sendo representação de Deus, à parte de Cristo, não passará de um ídolo.
O primogênito de toda criatura.
A razão desta designação se acrescenta imediatamente - Pois nele todas as coisas são criadas, como ele é, três versículos adiante, chamado o primogênito dos mortos, porque por meio dele todos nós ressuscitamos.
Daí, ele não é chamado o primogênito simplesmente com base no fato de haver ele precedido todas as criaturas, num ponto do tempo, mas porque ele foi gerado pelo Pai, para que fossem criadas por ele e para que ele fosse, por assim dizer, a substância ou fundamento de todas as coisas.
Foi, pois, uma tola posição que os arianos assumiram, argumentando, à luz disto, que ele era, conseqüentemente, uma criatura. Pois do que aqui se trata não é o que ele é em si mesmo, mas o que ele realiza em outros.
Visível e invisível
Ambas estas espécies estavam inclusas na distinção precedente de coisas celestiais e coisas terrenas; mas, como Paulo tinha em mente principalmente fazer essa afirmação em referência aos anjos, agora faz menção das coisas invisíveis. Portanto, temos não só aquelas criaturas celestiais que são visíveis aos nossos olhos, mas também criaturas espirituais, criadas pelo Filho de Deus. Que segue imediatamente, sejam tronos etc, como se ele dissesse: “não importa por que nomes são chamadas.”
Por tronos há quem entenda anjos. No entanto, sou antes da opinião de que pelo termo está implícito o palácio celestial da majestade de Deus, o qual não devemos imaginar ser tal como nossa mente possa conceber, mas tal como é apropriado ao próprio Deus. Vemos o sol e a lua, e todo o adorno do céu, mas a glória do reino de Deus é oculta à nossa percepção, porque é espiritual e acima dos céus. Enfim, entendamos pelo termo tronos aquela sede da bendita imortalidade que é isenta de toda e qualquer mudança. Pelos demais termos, indubitavelmente, ele descreve os anjos. Ele os cham a dom inações, principados, potestades, não como se dominassem qualquer reino separado , ou fossem dotados com poder peculiar, mas porque são os ministros do poder e domínio divinos. Entretanto, é costumeiro que, na medida que Deus manifesta seu poder nas criaturas, seus nomes lhes são, nessa proporção , transferidos. E assim ele mesmo é o único Senhor e Pai, mas aqueles são também chamados senhores e pais, aos quais ele dignifica com esta honra. Daí se dar também que os anjos, bem com o os juízes, sejam chamados deuses. Daí, também nesta passagem , os anjos são designados por diversos títulos gloriosos, o que notifica não o que possam fazer de si mesmos, ou à parte de Deus, mas o que Deus faz por meio deles, e que funções ele lhes designou. Estas coisas nos fazem entender de uma maneira tal que nada detrai da glória do Deus único; pois ele não comunica seu poder aos anjos a ponto de diminuir a sua própria; ele não opera por meio deles de uma maneira que lhes resigne ou transfira para eles seu poder; ele não deseja que sua glória resplandeça neles, de modo que ela seja obscurecida em seu próprio Ser.
Paulo, contudo, intencionalmente, enaltece a dignidade dos anjos em termos tão magnificentes para que ninguém pense que está na vontade de Cristo unicamente ter sobre eles a preeminência. Portanto , ele faz uso desses termos com o que à guisa de concessão , como se quisesse dizer que toda sua excelência nada detrai de Cristo, por mais honrosos que sejam os títulos com que são adornados. Quanto aos que filosofam sobre estes termos com excessiva sutileza, para que não extraiam deles as diferentes ordens de anjos, que se regalem com seus petiscos, pois com certeza estão muito longe do desígnio de Paulo.
17. Todas as coisas foram criadas por ele e para ele
Ele coloca os anjos em sujeição a Cristo, para que não obscureçam sua glória, por quatro razões:
1. Em primeiro lugar, porque foram criados por ele;
2. Em segundo lugar, porque sua criação deve ser vista com o tendo relação com ele, com o o fim legítimo deles
3. Em terceiro lugar, porque ele mesmo sempre existiu, antes da criação deles
4. Em quarto lugar, porque ele os sustém por seu poder e os mantém em sua condição.
Ao mesmo tempo, ele não afirma isto meramente em referência aos anjos, mas também em referência ao mundo inteiro. E assim ele põe o Filho de Deus na mais elevada posição de honra, para que ele tenha a preeminência sobre os anjos, bem com o sobre os homens, e para que mantenha sob controle todas as criaturas no céu e na terra.
18. A cabeça do corpo
Havendo discursado em term os gerais sobre a excelência de Cristo, bem com o seu soberano domínio sobre todas as criaturas, ele volta uma vez mais àquelas coisas que se relacionam peculiarmente com a Igreja. Sob o termo cabeça, alguns crêem que muitas coisas estão inclusas.
E, inquestionavelmente, mais adiante ele faz uso, com o descobrirem os, da mesma metáfora, neste sentido: que, como no corpo humano ela serve como que de teto, do qual se difunde energia vital através de todos seus membros, assim a vida da Igreja emana de Cristo etc. [Cl 2.19]. Aqui, não obstante, em minha opinião, ele fala principalmente do governo. Ele mostra, pois, que Cristo é o único que possui autoridade de governar a Igreja; que ele é o único a quem a Igreja deve manter seus olhos e o único de quem depende a unidade do corpo.
Os papistas, com vistas a sustentar a tirania de seu ídolo, alegam que a Igreja seria sem cabeça (άκεφαλον), se o papa não exercesse, como um a cabeça, domínio sobre ela. Paulo, contudo, não admite esta honra nem mesmo aos anjos e, contudo, não mutila a Igreja privando- -a de sua cabeça; porque, com o Cristo reivindica para si este título, assim ele exerce verdadeiramente o ofício.
Também estou bem ciente da cavilação pela qual tentam escapar - que o papa é um a cabeça ministerial. No entanto, a designação cabeça é sublime demais para ser legitimamente transferida a qualquer homem mortal, sob qualquer pretexto, especialmente sem o comando de Cristo. Gregório demonstra mais modéstia, o qual diz (em sua 92- Epístola, Livro 4) que Pedro deveras era um dos principais membros da Igreja, as que ele e os dem ais apóstolos eram membros sob uma só cabeça.
Ele é o princípio.
Como αρχή às vezes é usado entre os gregos para denotar o fim ao qual todas as coisas mantêm relação, podemos entendê-lo como significando que Cristo é, neste sentido (αρχή), o fim.
Não obstante, prefiro explicar as palavras de Paulo assim: que ele é o princípio, porque é o primogênito dos mortos; porquanto na ressurreição há uma restauração de todas as coisas, e desta maneira o começo da segunda e nova criação, pois a primeira se fez em pedaços na ruína do primeiro homem.
Como, pois, Cristo, ao ressuscitar, veio a ser o começo do reino de Deus, por isso com boas razões ele é chamado o princípio; pois então realmente começamos a ter existência aos olhos de Deus, quando somos renovados, de modo a sermos novas criaturas.
Ele é chamado “o primogênito dos mortos”, não meramente porque fosse o primeiro a ressuscitar, mas porque também restaurou a vida a outros, como em outro lugar é chamado “as primícias dos que dormem ” [1 Co 15.20].
Para que em todas as coisas.
Ele conclui disto que, em todas as coisas, a supremacia lhe pertence. Porque, se ele é o Autor e Restaurador de todas as coisas, manifesta-se que esta honra lhe é devida com toda justiça. Ao mesmo tempo, a frase "in omnibus" (em todas as coisas) pode ser tomada em dois sentidos - ou acima de todas as criaturas, ou em tudo. Não obstante, isto não é de muita importância, pois o significado simples é que todas as coisas estão sujeitas à sua autoridade.
19. Porque aprouve ao Pai que nele.
Com vistas a confirmar o que declarara acerca de Cristo, ele agora adiciona que fora assim planejado na providência de Deus.
E, inquestionavelmente, para que possamos com reverência adorar este mistério, é necessário que sejamos guiados de volta àquela fonte. Isto é assim, diz ele, “porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude.”
Ora, ele tem em mente uma plenitude de justiça, sabedoria, poder e toda bênção. Pois Deus conferiu tudo a seu Filho, para que fosse glorificado nele, como lemos em João 5.20. Entretanto, ao mesmo tempo ele nos mostra que devemos extrair da plenitude de Cristo tudo que de bom desejamos para nossa salvação, porque esta é a determinação de Deus - não comunicar a si mesmo, ou seus dons aos homens, de outro modo senão por seu Filho.
“Cristo é tudo para nós; à parte dele nada possuímos.”
Daí se segue que tudo o que detrai de Cristo, ou que prejudica sua excelência, ou lhe rouba seu ofício ou, por fim, esvazia uma gota de sua plenitude, subverte, até onde esteja em seu poder, o eterno conselho de Deus.
20. E por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas.
Esta é também um magnificente enaltecimento de Cristo: que não podemos estar unidos a Deus de outro modo senão através dele.
Em primeiro lugar, consideremos que nossa felicidade consiste em aderirmos a Deus, e que, em contrapartida, nada há mais miserável do que viver alienado dele.
Em segundo lugar, ele declara que somos abençoados unicamente através de Cristo, visto que ele é o vínculo de nossa conexão com Deus, e, em contrapartida, fora dele somos mui miseráveis, porque somos privados de Deus.
Entretanto, tenhamos em mente que o que ele atribui a Cristo lhe pertence peculiarmente: que nenhuma porção deste louvor pode ser transferida para qualquer outro. Disto devemos considerar os contrastes com estas coisas como subentendidos - que, se esta é uma prerrogativa de Cristo, então não pertence a outrem. Pois com este propósito ele disputa contra os que imaginavam que os anjos eram pacificadores, através de quem se podia abrir um acesso a Deus
Fazendo a paz pelo sangue de sua cruz.
Ele fala do Pai - que se fez propício às suas criaturas pelo sangue de Cristo.
Agora ele o chama o sangue da cruz, já que ele era o penhor e preço de nossa paz com Deus, porque ele foi derramado na cruz. Pois era necessário que o Filho de Deus fosse uma vítima expiatória, e suportasse o castigo devido ao pecado, para que “nele fôssemos feitos justiça de Deus” [2 Co 5.21].
0 sangue da cruz, pois, significa o sangue do sacrifício que foi oferecido na cruz com o fim de apaziguar a ira de Deus. Ao adicionar por meio dele o apóstolo não tencionava expressar algo novo, e sim para expressar mais distintamente o que previamente afirmara e expressá-lo ainda mais profundamente na mente deles - que Cristo é o único autor da reconciliação, de modo a excluir todos os demais meios. Porquanto nem um outro foi crucificado por nós. Daí ser ele só, por meio de quem e por cuja causa temos Deus propício a nós.
Tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu.
Se você se sente inclinado a entender isto como uma mera referência a criaturas racionais, então significará os homens e os anjos.
É verdade que não havia nenhum absurdo estendê-la a todos sem exceção; mas, para que eu não tenha a necessidade de filosofar com demasiada sutileza, prefiro entendê- como uma referência aos anjos e aos homens; e, quanto a estes, não há dificuldade de que houvesse necessidade de um pacificador aos olhos de Deus.
No entanto, quanto aos anjos, há uma questão de difícil solução. Pois, que ocasião há para reconciliação, onde não há discórdia nem ódio? Muitos, influenciados por esta consideração, explicaram a passagem ora diante de nós nestes termos: que os anjos tiveram de entrar em acordo com os homens, e que por isto significa que as criaturas celestiais foram restauradas ao favor com as criaturas terrenas. Não obstante, outro significado é comunicado pelas palavras de Paulo: que Deus se reconciliou consigo mesmo. Portanto, essa explanação é forçada.
Resta vermos qual é a reconciliação de anjos e homens. Digo que os homens têm sido reconciliados com Deus porque previamente estavam alienados dele mediante o pecado, e porque assim o teriam como Juiz para sua ruína, não houvera a graça do Mediador se interposto para apaziguar sua ira. Daí a natureza da pacificação entre Deus e os homens foi esta: que os inimigos foram abolidos através de Cristo, e assim Deus veio a ser Pai em vez de Juiz.
Entre Deus e os anjos o estado das coisas é muito diferente, pois ali não há revolta, nem pecado e, conseqüentemente, nem separação.
Entretanto, era necessário que os anjos, igualmente, vivessem em paz com Deus, porque, sendo criaturas, não estavam fora do risco de cair, não fossem confirmados pela graça de Cristo.
Não obstante, isto não é de pouca importância para a perpetuidade da paz com Deus: ter uma posição fixa na justiça, de modo a não mais nutrir receio de cair ou de se revoltar.
Demais, nessa mesma obediência que rendiam a Deus não havia uma perfeição tão absoluta que se desse a Deus satisfação em cada aspecto e sem a necessidade de perdão. E isto, além de qualquer dúvida, é o que está implícito por aquela afirmação em Jó 4.18: “Ele achará iniquidade em seus anjos.”
Porque, se for explicado como sendo uma referência ao diabo, que coisa poderosa é essa?
Mas ali o Espírito declara que a maior pureza é vileza, se introduzir uma comparação com a justiça de Deus.
Devemos, pois, concluir que não há da parte dos anjos tanta justiça que fosse suficiente para sua perfeita união com Deus. Portanto, eles têm necessidade de um pacificador, por cuja graça aderissem a Deus plenamente.
Daí é com propriedade que Paulo declara que a graça de Cristo não reside somente entre o gênero humano, e, em contrapartida, a faz comum também aos anjos.
Tampouco se faz alguma injustiça aos anjos enviá-los a um Mediador a fim de que, através de sua bondade, tenham uma paz bem sólida com Deus.
Alguém, sob o pretexto da universalidade da expressão, suscitaria uma questão em referência aos demônios, se Cristo fosse também seu pacificador?
Minha resposta é não! Nem mesmo dos homens perversos; ainda que eu confesse que haja certa diferença, visto que o benefício da redenção é oferecido aos últimos, porém não aos primeiros.
Entretanto, isto nada tem a ver com as palavras de Paulo, as quais nada mais incluem além disto: que é através de Cristo som ente que todas as criaturas, que mantêm alguma conexão absoluta com Deus, aderem a ele.
1. Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e Timóteo, nosso irmão, 2. aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 3. Damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, orando sem pre por vós, 4. desde que ouvimos de vossa fé em Cristo Jesus, e do amor que tendes por todos os santos; 5. por causa da esperança que vos está reservada no céu, da qual ouvistes previamente na palavra da verdade do evangelho; 6. que já chegou a vós, como também está em todo 0 mundo, frutificando e crescendo, assim como entre vós desde 0 dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade; 7. segundo aprendestes de Epafras, nosso amado conservo, que por nós é fiel ministro de Cristo. 8. O qual também nos declarou vosso amor no Espírito.
A carta tece conjuntamente alta teologia com santidade de vida, e exortações com admoestações.
Um de seus principais temas é a plenitude de Cristo, e a plenitude que cristãos tem nele. Com isto dizemos que a pessoa e obra de Cristo são completos, e cristãos tem se beneficiado desta completude. Desde que este é o caso, qualquer tentativa de suplantar ou substituir a pessoa e obra de Cristo é na verdade enfraquecer e desvalorizá-lo, assim severamente comprometendo a integridade da fé Cristã.
15. Que é a imagem do Deus invisível
Ele chegou aos píncaros em seu discurso sobre a glória de Cristo. Ele o chama “a imagem do Deus invisível”, com isso significando que é tão-somente nele que Deus, que de outro modo é invisível, se nos manifesta, em concordância com o que lemos em João 1.18: “Ninguém jamais viu a Deus. 0 Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.”
Estou bem ciente de que maneira os antigos costumavam explicar isto; pois, tendo uma disputa a manter com os arianos, insistiam em igualar o Filho com o Pai, e sua identidade de essência (όμοουσίαν), enquanto nesse meio tempo não fazem menção do que é o ponto principal - de que maneira o Pai se nos faz conhecido em Cristo.
Quanto a Crisóstomo que põe toda a ênfase de sua defesa no termo imagem, disputando que não se pode dizer que a criatura é a imagem do Criador, é excessivamente frágil; mais ainda, é descartada por Paulo em 1 Coríntios 11.7, cujas palavras são: “o homem é a imagem e glória de Deus.”
Portanto, para que não recebamos algo senão o que é sólido, notemos bem que não se faz uso do termo imagem em referência à essência, mas como se referindo a nós; pois Cristo é chamado a imagem de Deus sobre esta base - que ele, de certa maneira, torna Deus visível a nós.
Ao mesmo tempo, disto deduzimos também sua identidade de essência (όμοουσία), pois Cristo realmente não representaria Deus se não fosse a Palavra essencial de Deus, visto que a questão aqui não é quanto àquelas coisas que, por comunicação, são também adequadas às criaturas, mas a questão é quanto à sabedoria, bondade, justiça e poder perfeitos de Deus, para cuja representação nenhuma criatura era competente.
Teremos, pois, neste termo uma poderosa arma em oposição aos arianos, mas, não obstante, devemos começar com aquela referência que já mencionei;não devemos insistir só sobre a essência.
Eis a suma: Deus, em si mesmo, isto é, em sua majestade desnuda, é invisível, e isso não meramente aos olhos corporais, mas também aos entendimentos dos homens, e que ele nos é revelado somente em Cristo, para que o contemplemos como num espelho. Pois em Cristo ele nos mostra sua justiça, bondade, justiça, poder, em suma, seu ego inteiro.
Devemos, pois, precaver-nos de buscá-lo em outra parte, pois tudo o que pusermos diante de nós, como sendo representação de Deus, à parte de Cristo, não passará de um ídolo.
O primogênito de toda criatura.
A razão desta designação se acrescenta imediatamente - Pois nele todas as coisas são criadas, como ele é, três versículos adiante, chamado o primogênito dos mortos, porque por meio dele todos nós ressuscitamos.
Daí, ele não é chamado o primogênito simplesmente com base no fato de haver ele precedido todas as criaturas, num ponto do tempo, mas porque ele foi gerado pelo Pai, para que fossem criadas por ele e para que ele fosse, por assim dizer, a substância ou fundamento de todas as coisas.
Foi, pois, uma tola posição que os arianos assumiram, argumentando, à luz disto, que ele era, conseqüentemente, uma criatura. Pois do que aqui se trata não é o que ele é em si mesmo, mas o que ele realiza em outros.
Visível e invisível
Ambas estas espécies estavam inclusas na distinção precedente de coisas celestiais e coisas terrenas; mas, como Paulo tinha em mente principalmente fazer essa afirmação em referência aos anjos, agora faz menção das coisas invisíveis. Portanto, temos não só aquelas criaturas celestiais que são visíveis aos nossos olhos, mas também criaturas espirituais, criadas pelo Filho de Deus. Que segue imediatamente, sejam tronos etc, como se ele dissesse: “não importa por que nomes são chamadas.”
Por tronos há quem entenda anjos. No entanto, sou antes da opinião de que pelo termo está implícito o palácio celestial da majestade de Deus, o qual não devemos imaginar ser tal como nossa mente possa conceber, mas tal como é apropriado ao próprio Deus. Vemos o sol e a lua, e todo o adorno do céu, mas a glória do reino de Deus é oculta à nossa percepção, porque é espiritual e acima dos céus. Enfim, entendamos pelo termo tronos aquela sede da bendita imortalidade que é isenta de toda e qualquer mudança. Pelos demais termos, indubitavelmente, ele descreve os anjos. Ele os cham a dom inações, principados, potestades, não como se dominassem qualquer reino separado , ou fossem dotados com poder peculiar, mas porque são os ministros do poder e domínio divinos. Entretanto, é costumeiro que, na medida que Deus manifesta seu poder nas criaturas, seus nomes lhes são, nessa proporção , transferidos. E assim ele mesmo é o único Senhor e Pai, mas aqueles são também chamados senhores e pais, aos quais ele dignifica com esta honra. Daí se dar também que os anjos, bem com o os juízes, sejam chamados deuses. Daí, também nesta passagem , os anjos são designados por diversos títulos gloriosos, o que notifica não o que possam fazer de si mesmos, ou à parte de Deus, mas o que Deus faz por meio deles, e que funções ele lhes designou. Estas coisas nos fazem entender de uma maneira tal que nada detrai da glória do Deus único; pois ele não comunica seu poder aos anjos a ponto de diminuir a sua própria; ele não opera por meio deles de uma maneira que lhes resigne ou transfira para eles seu poder; ele não deseja que sua glória resplandeça neles, de modo que ela seja obscurecida em seu próprio Ser.
Paulo, contudo, intencionalmente, enaltece a dignidade dos anjos em termos tão magnificentes para que ninguém pense que está na vontade de Cristo unicamente ter sobre eles a preeminência. Portanto , ele faz uso desses termos com o que à guisa de concessão , como se quisesse dizer que toda sua excelência nada detrai de Cristo, por mais honrosos que sejam os títulos com que são adornados. Quanto aos que filosofam sobre estes termos com excessiva sutileza, para que não extraiam deles as diferentes ordens de anjos, que se regalem com seus petiscos, pois com certeza estão muito longe do desígnio de Paulo.
17. Todas as coisas foram criadas por ele e para ele
Ele coloca os anjos em sujeição a Cristo, para que não obscureçam sua glória, por quatro razões:
1. Em primeiro lugar, porque foram criados por ele;
2. Em segundo lugar, porque sua criação deve ser vista com o tendo relação com ele, com o o fim legítimo deles
3. Em terceiro lugar, porque ele mesmo sempre existiu, antes da criação deles
4. Em quarto lugar, porque ele os sustém por seu poder e os mantém em sua condição.
Ao mesmo tempo, ele não afirma isto meramente em referência aos anjos, mas também em referência ao mundo inteiro. E assim ele põe o Filho de Deus na mais elevada posição de honra, para que ele tenha a preeminência sobre os anjos, bem com o sobre os homens, e para que mantenha sob controle todas as criaturas no céu e na terra.
18. A cabeça do corpo
Havendo discursado em term os gerais sobre a excelência de Cristo, bem com o seu soberano domínio sobre todas as criaturas, ele volta uma vez mais àquelas coisas que se relacionam peculiarmente com a Igreja. Sob o termo cabeça, alguns crêem que muitas coisas estão inclusas.
E, inquestionavelmente, mais adiante ele faz uso, com o descobrirem os, da mesma metáfora, neste sentido: que, como no corpo humano ela serve como que de teto, do qual se difunde energia vital através de todos seus membros, assim a vida da Igreja emana de Cristo etc. [Cl 2.19]. Aqui, não obstante, em minha opinião, ele fala principalmente do governo. Ele mostra, pois, que Cristo é o único que possui autoridade de governar a Igreja; que ele é o único a quem a Igreja deve manter seus olhos e o único de quem depende a unidade do corpo.
Os papistas, com vistas a sustentar a tirania de seu ídolo, alegam que a Igreja seria sem cabeça (άκεφαλον), se o papa não exercesse, como um a cabeça, domínio sobre ela. Paulo, contudo, não admite esta honra nem mesmo aos anjos e, contudo, não mutila a Igreja privando- -a de sua cabeça; porque, com o Cristo reivindica para si este título, assim ele exerce verdadeiramente o ofício.
Também estou bem ciente da cavilação pela qual tentam escapar - que o papa é um a cabeça ministerial. No entanto, a designação cabeça é sublime demais para ser legitimamente transferida a qualquer homem mortal, sob qualquer pretexto, especialmente sem o comando de Cristo. Gregório demonstra mais modéstia, o qual diz (em sua 92- Epístola, Livro 4) que Pedro deveras era um dos principais membros da Igreja, as que ele e os dem ais apóstolos eram membros sob uma só cabeça.
Ele é o princípio.
Como αρχή às vezes é usado entre os gregos para denotar o fim ao qual todas as coisas mantêm relação, podemos entendê-lo como significando que Cristo é, neste sentido (αρχή), o fim.
Não obstante, prefiro explicar as palavras de Paulo assim: que ele é o princípio, porque é o primogênito dos mortos; porquanto na ressurreição há uma restauração de todas as coisas, e desta maneira o começo da segunda e nova criação, pois a primeira se fez em pedaços na ruína do primeiro homem.
Como, pois, Cristo, ao ressuscitar, veio a ser o começo do reino de Deus, por isso com boas razões ele é chamado o princípio; pois então realmente começamos a ter existência aos olhos de Deus, quando somos renovados, de modo a sermos novas criaturas.
Ele é chamado “o primogênito dos mortos”, não meramente porque fosse o primeiro a ressuscitar, mas porque também restaurou a vida a outros, como em outro lugar é chamado “as primícias dos que dormem ” [1 Co 15.20].
Para que em todas as coisas.
Ele conclui disto que, em todas as coisas, a supremacia lhe pertence. Porque, se ele é o Autor e Restaurador de todas as coisas, manifesta-se que esta honra lhe é devida com toda justiça. Ao mesmo tempo, a frase "in omnibus" (em todas as coisas) pode ser tomada em dois sentidos - ou acima de todas as criaturas, ou em tudo. Não obstante, isto não é de muita importância, pois o significado simples é que todas as coisas estão sujeitas à sua autoridade.
19. Porque aprouve ao Pai que nele.
Com vistas a confirmar o que declarara acerca de Cristo, ele agora adiciona que fora assim planejado na providência de Deus.
E, inquestionavelmente, para que possamos com reverência adorar este mistério, é necessário que sejamos guiados de volta àquela fonte. Isto é assim, diz ele, “porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude.”
Ora, ele tem em mente uma plenitude de justiça, sabedoria, poder e toda bênção. Pois Deus conferiu tudo a seu Filho, para que fosse glorificado nele, como lemos em João 5.20. Entretanto, ao mesmo tempo ele nos mostra que devemos extrair da plenitude de Cristo tudo que de bom desejamos para nossa salvação, porque esta é a determinação de Deus - não comunicar a si mesmo, ou seus dons aos homens, de outro modo senão por seu Filho.
“Cristo é tudo para nós; à parte dele nada possuímos.”
Daí se segue que tudo o que detrai de Cristo, ou que prejudica sua excelência, ou lhe rouba seu ofício ou, por fim, esvazia uma gota de sua plenitude, subverte, até onde esteja em seu poder, o eterno conselho de Deus.
20. E por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas.
Esta é também um magnificente enaltecimento de Cristo: que não podemos estar unidos a Deus de outro modo senão através dele.
Em primeiro lugar, consideremos que nossa felicidade consiste em aderirmos a Deus, e que, em contrapartida, nada há mais miserável do que viver alienado dele.
Em segundo lugar, ele declara que somos abençoados unicamente através de Cristo, visto que ele é o vínculo de nossa conexão com Deus, e, em contrapartida, fora dele somos mui miseráveis, porque somos privados de Deus.
Entretanto, tenhamos em mente que o que ele atribui a Cristo lhe pertence peculiarmente: que nenhuma porção deste louvor pode ser transferida para qualquer outro. Disto devemos considerar os contrastes com estas coisas como subentendidos - que, se esta é uma prerrogativa de Cristo, então não pertence a outrem. Pois com este propósito ele disputa contra os que imaginavam que os anjos eram pacificadores, através de quem se podia abrir um acesso a Deus
Fazendo a paz pelo sangue de sua cruz.
Ele fala do Pai - que se fez propício às suas criaturas pelo sangue de Cristo.
Agora ele o chama o sangue da cruz, já que ele era o penhor e preço de nossa paz com Deus, porque ele foi derramado na cruz. Pois era necessário que o Filho de Deus fosse uma vítima expiatória, e suportasse o castigo devido ao pecado, para que “nele fôssemos feitos justiça de Deus” [2 Co 5.21].
0 sangue da cruz, pois, significa o sangue do sacrifício que foi oferecido na cruz com o fim de apaziguar a ira de Deus. Ao adicionar por meio dele o apóstolo não tencionava expressar algo novo, e sim para expressar mais distintamente o que previamente afirmara e expressá-lo ainda mais profundamente na mente deles - que Cristo é o único autor da reconciliação, de modo a excluir todos os demais meios. Porquanto nem um outro foi crucificado por nós. Daí ser ele só, por meio de quem e por cuja causa temos Deus propício a nós.
Tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu.
Se você se sente inclinado a entender isto como uma mera referência a criaturas racionais, então significará os homens e os anjos.
É verdade que não havia nenhum absurdo estendê-la a todos sem exceção; mas, para que eu não tenha a necessidade de filosofar com demasiada sutileza, prefiro entendê- como uma referência aos anjos e aos homens; e, quanto a estes, não há dificuldade de que houvesse necessidade de um pacificador aos olhos de Deus.
No entanto, quanto aos anjos, há uma questão de difícil solução. Pois, que ocasião há para reconciliação, onde não há discórdia nem ódio? Muitos, influenciados por esta consideração, explicaram a passagem ora diante de nós nestes termos: que os anjos tiveram de entrar em acordo com os homens, e que por isto significa que as criaturas celestiais foram restauradas ao favor com as criaturas terrenas. Não obstante, outro significado é comunicado pelas palavras de Paulo: que Deus se reconciliou consigo mesmo. Portanto, essa explanação é forçada.
Resta vermos qual é a reconciliação de anjos e homens. Digo que os homens têm sido reconciliados com Deus porque previamente estavam alienados dele mediante o pecado, e porque assim o teriam como Juiz para sua ruína, não houvera a graça do Mediador se interposto para apaziguar sua ira. Daí a natureza da pacificação entre Deus e os homens foi esta: que os inimigos foram abolidos através de Cristo, e assim Deus veio a ser Pai em vez de Juiz.
Entre Deus e os anjos o estado das coisas é muito diferente, pois ali não há revolta, nem pecado e, conseqüentemente, nem separação.
Entretanto, era necessário que os anjos, igualmente, vivessem em paz com Deus, porque, sendo criaturas, não estavam fora do risco de cair, não fossem confirmados pela graça de Cristo.
Não obstante, isto não é de pouca importância para a perpetuidade da paz com Deus: ter uma posição fixa na justiça, de modo a não mais nutrir receio de cair ou de se revoltar.
Demais, nessa mesma obediência que rendiam a Deus não havia uma perfeição tão absoluta que se desse a Deus satisfação em cada aspecto e sem a necessidade de perdão. E isto, além de qualquer dúvida, é o que está implícito por aquela afirmação em Jó 4.18: “Ele achará iniquidade em seus anjos.”
Porque, se for explicado como sendo uma referência ao diabo, que coisa poderosa é essa?
Mas ali o Espírito declara que a maior pureza é vileza, se introduzir uma comparação com a justiça de Deus.
Devemos, pois, concluir que não há da parte dos anjos tanta justiça que fosse suficiente para sua perfeita união com Deus. Portanto, eles têm necessidade de um pacificador, por cuja graça aderissem a Deus plenamente.
Daí é com propriedade que Paulo declara que a graça de Cristo não reside somente entre o gênero humano, e, em contrapartida, a faz comum também aos anjos.
Tampouco se faz alguma injustiça aos anjos enviá-los a um Mediador a fim de que, através de sua bondade, tenham uma paz bem sólida com Deus.
Alguém, sob o pretexto da universalidade da expressão, suscitaria uma questão em referência aos demônios, se Cristo fosse também seu pacificador?
Minha resposta é não! Nem mesmo dos homens perversos; ainda que eu confesse que haja certa diferença, visto que o benefício da redenção é oferecido aos últimos, porém não aos primeiros.
Entretanto, isto nada tem a ver com as palavras de Paulo, as quais nada mais incluem além disto: que é através de Cristo som ente que todas as criaturas, que mantêm alguma conexão absoluta com Deus, aderem a ele.
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